quarta-feira, 28 de maio de 2014

“Exército vence intervenção bancada pelos EUA”, afirmam diretores da Fearab-Américas que percorreram a Síria


Há 15 dias, Claude Hajjar, diretora da Federação das Entidades Árabes das Américas (Fearab-Américas) e Michel Saccab, diretor suplente da mesma entidade e membro do Partido Pátria Livre, percorreram a Síria e nos deram, assim que chegaram, uma entrevista exclusiva. Liguei o gravador e eles expuseram o que viram.



Michel – Decidimos fazer uma viagem à Síria para ver in loco o que está acontecendo. Não fomos a convite, como delegação oficial, queríamos ter uma visão real dos fatos.



Claude – Descemos no Líbano, em Beirute, e pudemos primeiro sentir a repercussão dos embates no país vizinho. Conversamos com parentes e pessoas do povo, hoje, comparando a percepção das pessoas da Síria e do Líbano, podemos dizer que no Líbano há uma solidariedade generalizada, as pessoas torcem para que o conflito acabe e a Síria e seu povo sejam preservados. Na Síria a sensação é a de superação, de que o mais grave já passou e que a cada dia há uma nova vitória.



Michel – Tomamos um taxi até Damasco. Estávamos muito tensos, à medida em que nos aproximávamos da fronteira. Mas assim que a atravessamos começamos a sentir tranquilidade. Chegamos a Damasco por uma estrada limpa, não vimos sinais da guerra por todo o caminho. Nos deparamos com um povo sereno, agradável e atuante no dia a dia. As pessoas que visitei, que já conhecia, parentes meus por toda a Síria confiam que a expulsão dos que vieram de fora para tumultuar a vida do país estão com os dias contados.



Claude – A vida continua. Os produtos lá – depois de uma alta no início do conflito – estão com os preços muito mais baixos. É muito mais barato viver na Síria do que no Líbano, e do que em São Paulo, nem se fala. Não é uma economia submetida à chamada globalização, à colonização das economias pelas potências capitalistas centrais. A economia da Síria não é submetida – aliás este talvez seja um dos motivos centrais da intervenção – bancada principalmente pelos Estados Unidos, que quer a submissão desta economia aos mecanismos de hegemonia transnacionais.



Michel – Nossos conhecidos, continuam vivendo nas mesmas casas, comprando nas mesmas padarias. Existem regiões ainda sob os fanáticos – a maioria estrangeiros. São áreas cada vez menores. Menos significantes do que a imprensa divulga por aqui. Em Aleppo, onde fica um dos seus últimos redutosl, são bairros isolados e sob cerco do exército.



Claude – Tenho parentes em Aleppo. Eles também estão nas mesmas casas e vão às compras nos mesmos locais. Mas Allepo foi muito afetada pelo roubo de mais de 1500 fábricas que foram transportadas integralmente para a Turquia. Este foi um roubo do parque industrial da cidade que visava derrotar a Síria e sua produção. Mas mantiveram-se lá inúmeros industriais que possuiam fábricas e continuam perseverante na produção de suas fábricas em Aleppo e em Homs.



Michel – É verdade que todos tomaram precauções. Os de Homs e Aleppo com condições financeiras tiraram filhas e crianças da região mais conflitada. Mandaram a cuidados de parentes e amigos em Damasco ou Líbano. Sabemos que os agressores são brutais. Vimos cenas em vídeo de atrocidades cometidas contra quem lhes cai nas mãos. Os pais preferiram proteger seus filhos, principalmente as filhas.



Claude – É claro que nas regiões onde os taqfiri ocuparam houve êxodo, as pessoas saíram mas, à medida em que estes locais são retomados pelo exército, estão retornando. Os serviços são restaurados, o esforço de reconstrução nas localidades retomadas é muito grande. Pudemos ver igrejas reconstruídas como a de Maalula e visitar mesquitas restauradas como a dos Umaiadas, que foi atingida por um míssil. Já foram descobertos taqfiri recrutados fora do país, num total de 83 nacionalidades.



Michel – Não há um levante nacional sírio. Existe oposição, há gente que não gosta do governo, não gosta do Bashar, que acha que a presença do Estado em larga escala é prejudicial, e defende mais aproximação com a Europa, há outros que reclamam que há ocidentalização demais, os setores religiosos mais conservadores, mas isso está longe de configurar um levante armado, como a imprensa daqui, dos EUA, tenta passar. Existe uma sensação generalizada de que as coisas estão avançando, de que a tentativa de derrubar o governo por intervenção externa fracassou e a expectativa é a de que uma vez superada esta fase a Síria vai tomar um impulso econômico muito grande de reconstrução nas localidades retomadas. Pudemos ver igrejas reconstruídas como a de Maalula e visitar mesquitas restauradas como a dos Umaiadas, que foi atingida por um míssil. Já foram descobertos taqfiri recrutados fora do país, num total de 83 nacionalidades.



Claude – Onde nós estivemos, sentimos a presença da ação do governo. Mesmo com o conflito os serviços públicos estão mantidos e são melhores do que os que atendem a nossas populações mais pobres. As escolas, universidades, hospitais, creches estão funcionando. A economia está em andamento, o país não parou.



Michel – Damasco, e Homs, agora liberada, estão seguras. Uma segurança garantida pelo conjunto da população. O povo vê o exército como libertador, garantia da integridade do país. Há uma quantidade enorme de voluntários, principalmente jovens organizados em milícias civis, nas ruas, diante de fábricas, escolas, monumentos.



Claude – O trabalho no comércio vai até as quatro da tarde, depois disso o que se vê são jovens e homens de idade conversando nos bares e praças, muita gente jogando gamão. Fomos à Universidade de Damasco. Há uma quantidade de aparelhos modernos à disposição dos alunos com enorme vontade de estudar.



Michel – No encontro com o vice-ministro das Relações Exteriores, Faisal Mekdad, ele expôs que a ingerência estrangeira para tentar derrubar o governo sírio foi através de mercenários recrutados por governos árabes com regimes ditatoriais como Qatar e Arábia Saudita e treinados e armados pela CIA. “O mundo pôde tomar conhecimento das atrocidades contra mulheres e crianças sírias”, disse. Essa agressão também se deu por que a Síria defende os povos e a cultura árabe e nisso se inclui o apoio ao povo palestino. “Enfraquecer este governo faz parte da agenda israelense”, declarou. Para Mekdad, foi fundamental o apoio dos países amigos a exemplo da Rússia e a China. O ministro expressou tristeza pela postura omissa do governo brasileiro, “se alguém cala quando uma injustiça a exemplo do desrespeito brutal à soberania de um povo e um governo legítimo, é por que está de certa forma de acordo com essa agressão”.



Claude – O vice-ministro expressou sua tristeza com relação ao Itamaraty e sua mudança de conduta que levou à retirada do embaixador brasileiro de Damasco e nos conclamou a trabalhar para esclarecer os fatos no Brasil e estimular os membros da comunidade árabe a uma atuação mais política para aprofundar a solidariedade aos povos árabes quando são ameaçados ou atingidos pelo colonialismo.



Oriente mídia

Fonte: “Exército vence intervenção bancada pelos EUA”, afirmam diretores da Fearab-Américas que percorreram a Síria»

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