O ministro da Defesa, Jaques Wagner, disse nesta quarta-feira (15.04), durante entrevista coletiva no auditório da sala de imprensa do Riocentro, no Rio de Janeiro, que, na semana passada, o Ministério da Defesa fez um repasse de aproximadamente 120 milhões de Reais à Embraer, por conta da dívida “de 600 ou 700 milhões de Reais” que o governo mantinha com a companhia, desde o ano passado, em função do programa de desenvolvimento do jato cargueiro KC-390.
Wagner contou que depois do “voo experimental” do protótipo do avião, em fevereiro, ele agora deverá fazer o seu “voo inaugural”, no mês de junho. O ministro reafirmou o compromisso de seu ministério no apoio ao projeto KC-390, e garantiu que o restante da dívida com a fabricante da aeronave será amortizada gradualmente.
Acompanhado, no auditório, pelos comandantes da Marinha, almirante Eduardo Leal Ferreira; da Aeronáutica, brigadeiro Nivaldo Rossato; e pelo comandante do Exército, general Eduardo Villas-Boas, Jaques Wagner, ao responder a uma pergunta da Revista Forças de Defesa, foi muito mais duro e pessimista com as perspectivas do Programa de Obtenção de Meios de Superfície da Marinha – o PROSUPER.
“Diante de toda a expectativa que ainda temos com a definição do ajuste fiscal [cortes orçamentários]”, disse o ministro, “não é razoável esperar que o PROSUPER possa ter desenvolvimento agora”.
A seguir, as principais respostas do ministro da Defesa durante a entrevista no Rio de Janeiro:
Sobre o programa KC-390:
“Eu não tenho condições de dizer quando é que a dívida com a Embraer relativa ao KC-390 será sanada. Acabamos de liberar 120 milhões [de Reais] na semana passada. Agora aquele protótipo que fez o voo experimental está sendo desmontado para que a companhia possa fazer uma revisão de 6 ou 7 mil itens. Em junho o protótipo voará outra vez, aí sim em seu voo inaugural, e depois desse evento a Embraer irá desmontá-lo uma segunda vez para a fase em que revisará não 6 mil, mas 12 mil componentes. Vamos apoiar todas essas etapas tecnológicas, inclusive do ponto de vista financeiro, é claro”.
Sobre o PROSUPER:
“Diante de toda a expectativa que ainda temos com a definição do ajuste fiscal [cortes orçamentários], não é razoável esperar que o PROSUPER possa ter desenvolvimento agora. Eu mantenho a esperança de que na parte final desse ano tenhamos condições de dizer alguma coisa. Estou sendo informado pelo comandante da Marinha, que está aqui do meu lado, que essa licitação do PROSUPER ainda não foi encerrada. Ela foi temporariamente paralisada justamente em função do ajuste fiscal. Está ‘hibernando’, como me diz o comandante da Marinha…”
A decisão da presidenta Dilma Roussef de romper o acordo com a Ucrânia para o lançamento do foguete Cyclone-4 do Centro de Lançamentos de Alcântara, no Maranhão:
“Em primeiro lugar quero dizer que não podemos descontinuar o nosso processo de adensamento tecnológico, mas esse é um projeto a seis mãos. Ele está sendo conduzido pelos ministérios da Ciência e Tecnologia, da Defesa e das Relações Exteriores. Cabe ao Ministério das Relações Exteriores fazer os contatos com a outra parte, e por isso eu não posso avançar muito sobre isso. Mas é fato que temos dificuldades para levar esse projeto adiante. Esse assunto foi item da pauta da minha reunião semanal com a presidenta [acontecida nesta segunda-feira, dia 13.04]. Eu já comuniquei ao ministro Mauro Vieira [das Relações Exteriores] o que eu e a presidenta conversamos, mas cabe ao ministro Mauro Vieira fazer os comunicados correspondentes. É só o que eu posso dizer por enquanto”.
Sobre a agenda da presidenta Dilma Roussef, na área de Defesa, durante a sua próxima visita oficial aos Estados Unidos:
“Eu fiquei muito satisfeito de saber que a presidenta marcou essa viagem para o fim de junho. Eu certamente estarei na comitiva que a acompanhará, e aqui na LAAD pude conversar sobre esse assunto com a embaixadora dos Estados Unidos e com os responsáveis pelo pavilhão americano na feira. Conversamos sobre os dois tipos de acordo que pretendemos assinar com o governo Barack Obama na área de Defesa: um acordo-padrão de parceria nesse setor, que já se encontra praticamente definido; e outro, mais sofisticado, composto por quatro itens, que ainda está sendo negociado entre as partes. Isso é o que eu posso dizer no momento”.
Sobre as perspectivas do montante das verbas a serem cortadas na área da Defesa:
“Como eu já disse antes, não posso avançar sobre números porque isso depende das próximas decisões da Junta Orçamentária, formada pelos ministérios da Fazenda, do Planejamento e da Casa Civil. O que eu posso dizer é que a secretária-geral do meu ministério, dra. Eva [Chiavon], viajou ontem do Rio para Brasília justamente para fazer uma reunião no Ministério do Planejamento sobre o assunto do contingenciamento. O que eu quero dizer é que vamos insistir na capacitação dos brasileiros na área da Defesa. Ainda este ano teremos 250 ou 270 engenheiros viajando para a Suécia para se formar. Não vamos desistir da nossa qualificação nessa área”.
Sobre a propalada posição do governo de Londres, de negar a cessão de componentes britânicos para o caça Gripen que a Embraer possa vir a fabricar para a Força Aérea Argentina:
“Aí eu vejo dois caminhos. Ou buscamos uma substituição dos componentes britânicos no caça Gripen que a Embraer vai fabricar para os argentinos, ou tentamos que haja uma negociação presidida pela ONU, que eu acho que já deveria ter acontecido há muito tempo, sobre a soberania das Ilhas Malvinas. Ilhas que os ingleses ocuparam e que nós entendemos que pertencem aos argentinos. Eu estive recentemente com o ministro da Defesa argentino, e ele não desiste dos Gripen que a Embraer vai fabricar”.
Sobre os resultados da LAAD 2015:
“Tivemos 10.000 visitantes no primeiro dia, e mantemos nossa previsão de 40.000 para toda a feira. A LAAD cresceu. Este ano temos mais de 600 expositores de 45 países. Quase 190 empresas brasileiras presentes a esse evento e 158 delegações visitantes, procedentes de 71 países. Nessas delegações vieram à LAAD oito ministros da Defesa e 15 vice-ministros da Defesa estrangeiros. Fechamos uma venda de equipamentos brasileiros ao governo do Iraque, e temos a expectativa de concluir uma segunda operação desse tipo com o mesmo cliente”.
Sobre a prisão do tesoureiro do PT, ocorrida nesta quarta-feira, em decorrência de seu envolvimento na Operação Lava Jato:
“Eu já disse muitas vezes que partido é entidade privada, portanto o Sr. Vaccari, tesoureiro do PT, não faz parte do governo. O juiz Moro e o Ministério Público Federal terão os seus motivos para terem feito o que fizeram. Acho que o Partido [PT] tem que revisitar esse episódio, e acho que ele fará isso no seu 5º congresso [nacional do PT]. Mas o que é preciso fazer nesse momento é uma reforma política. A máquina de fazer política nesse país está viciada. Política não pode ser caso de Polícia. E nem esses problemas são prerrogativas do meu partido. Precisamos eliminar esse comércio do tempo de tevê, diminuir os custos de uma campanha eleitoral, e adotar muitas outras medidas, para que possamos ter uma reforma política de verdade e partidos mais fortalecidos”.
Sobre o possível envolvimento da presidenta Dilma Roussef nos problemas da Petrobras e na onda de corrupção que vem sendo detectada no país:
“Se tem alguma coisa, se tem alguém que está distante disso é a presidenta Dilma Roussef. Tentar colocar essa pecha nela não cola. Por aí não vai dar certo, porque não tem aderência. Devemos à rigidez dessa senhora, que é a presidenta da República, parte dos problemas que ela tem”.
Poder Aéreo
Fonte: LAAD 2015: Wagner otimisma com pagamentos à Embraer e pessimista com o PROSUPER»
0 comentários
Postar um comentário