Somente a visão da entrada da gruta lhe causava arrepios. Fazia anos, ou talvez vidas e eras, que ele não retornava aquele lugar, e no entanto a relva em seu entorno e até mesmo as pequenas pedras ainda lhe pareciam estranhamente familiares. A verdade é que nunca seria capaz de realmente esquecer, pois que foi naquela pequena fenda de montanha que ele finalmente abandonou as sombras da Caverna, e conheceu o Sol. O mesmo local ainda lhe trazia, ao mesmo tempo, toda a tristeza e toda a alegria do mundo.
"Não importa, eu vim aqui realizar a minha missão" – pensou, e logo após penetrou na escuridão…
Como seus olhos já não estavam mais habituados a enxergar nas sombras, empunhava a sua espada, a mesma com a qual desferiu o golpe mortal no Guardião da Passagem, e alcançou a liberdade. Hoje ela não era mais um instrumento de morte, mas um artefato mágico – uma espada que gerava a sua própria luz. Apesar de tênue e azulada, era esta a luz que permitia que ele pudesse se guiar terra adentro, rumo ao coração das sombras, há muito abandonado, mas que hoje era novamente o seu destino.
De vez em quando encontrava um ou outro andarilho escalador, desgastado e solitário, a gemer e choramingar pelo caminho. Isso lhe trazia de volta as emoções de outrora, todas as dúvidas e sofrimentos, todos os temores e descompassos da alma, que acreditara terem se aniquilado, mas que em verdade sempre estiveram ainda lá, nos porões do inconsciente.
"Anjo! Anjo! Me diga quanto falta, por favor!" – gritou um coitado desesperado a tatear, quase cego, o chão da caverna.
(...)
Acompanhe o resto em A Confraria dos Espelhos (675 words)
© raph for Teoria da Conspiração, 2014. | Permalink | | Add to del.icio.us
Post tags: Contos, Espiritualidade
Fonte: A Confraria dos Espelhos»
0 comentários
Postar um comentário